segunda-feira, 23 de março de 2009

Lepra nunca mais

“E, descendo ele do monte, seguiu-o uma grande multidão। E, eis que veio um leproso, e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo। E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo: Quero; sê limpo. E logo ficou purificado da lepra”. (Mt 8:1-3)
A paz de Cristo। A Bíblia Sagrada apresenta acontecimentos extraordinários em seus 66 livros. São fatos fenomenais que desafiam os limites da razão. Coisas tão tremendas que mexem com a nossa fé, fazem trepidar a nossa estrutura. Pelo menos é assim que me sinto toda vez que me deparo com um texto onde ocorre a intervenção divina.

O texto de Mateus 8 é uma pérola que faz meus olhos brilharem। Regozijo-me em ver o meigo nazareno em ação. Mas me regozijo mais ainda em ver a atitude do leproso. Algumas coisas saltam no texto:

a) À semelhança da mulher que sofria do fluxo de sangue há 12 anos (Mt 9) e havia enfrentado uma multidão e tocado na orla das vestes de Jesus, o leproso também vence o primeiro obstáculo que era a multidão, chega próximo ao Cordeiro e o adora। Esse homem que a bíblia não diz o nome, vence a barreira da rejeição, encontra forças no mais profundo da sua alma e adora ao Rei Jesus.

b) O leproso era alguém considerado imundo (Lv 13), e não podia ter contato com ninguém। Ao se aproximar de uma pessoa ele tinha que gritar que era imundo, assim as pessoas evitavam o contato com ele. O convívio social era proibido ao leproso. Estar com lepra significava levar uma vida marcada pela dor e a solidão, longe da família, longe dos amigos, longe de todos quanto amava. Mas a este homem foi manifestada a providência divina e assim como Bartimeu (Mc 10), ele não perdeu a oportunidade, quando viu que era Jesus que passava, se rendeu aos seus pés.

c) “Senhor, se quiseres, podes tornar-me limpo” – Essa declaração do leproso foi o start da sua cura। Esse leproso de alguma forma sabia da autoridade de Jesus e creu. Ele colocou a fé em ação e verbalizou, o senhor pode me limpar. A lepra não tinha tratamento, era a doença mais cruel da época. A maioria dos leprosos vivia à margem da sociedade no Vale dos Leprosos apenas aguardando a morte chegar. Mas este leproso tem um encontro com Aquele que tem poder para mudar a sua história. A resposta de Jesus não poderia ser outra: “Quero. Sê limpo”. E o leproso foi purificado.

Jesus é a cura para enfermidades físicas, mas também espirituais। Não importa qual seja a sua enfermidade ou o problema que lhe aflige. Declare para Deus: “Se quiseres, pode ajudar-me”. A boa notícia é que Ele quer lhe ajudar, quer mudar a sua vida, quer transformar a sua história. O leproso foi até Jesus. Faça o mesmo hoje. Se achegue a Jesus em oração e o adore. E pode ser que seja esse o dia que Deus preparou para te purificar da lepra, do pecado, de tudo que tem te oprimido e te levado ao sofrimento. Clame por socorro: “Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir. (Is 59:1)

Quando Jesus opera os cegos vêem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho।

Deus te abençoe.
No amor de Cristo,
Anderson Vieira

sexta-feira, 13 de março de 2009

Infidelidade a Deus

“Você, mulher adúltera! Prefere estranhos ao seu próprio marido”! (Ez 16:32 NVI)

A paz de Cristo. Você que lê esse artigo, alguma vez você já foi traído por alguém que muito amava? Sem querer entrar na sua intimidade e respeitando o seu caráter, em algum momento da sua vida você já traiu alguém, já adulterou? Perguntas um tanto quanto incômodas. Pode até ser que você esteja dizendo aí frente ao computador, quem esse sujeito pensa que é para fazer uma pergunta dessa natureza. Agora imagine ser taxado de adúltero (a). Pois foi isso que Deus impeliu o Profeta Ezequiel a declarar a Jerusalém: “Você, mulher adúltera”.

Deus estava sendo traído de forma escrachada। Jerusalém havia se tornado infiel. Deus fez uso de uma linguagem simbólica, figurada, a fim de que pudéssemos compreender. Jerusalém havia se prostituído, exposto a nudez em promiscuidade com seus amantes (Ez 16:36). Misericórdia.

A fidelidade é um dos principais pilares da relação matrimonial। Já na relação estabelecida com Deus, fidelidade não é um dos principais pilares, ela é o pilar principal. A palavra de Deus é clara: “Não terás outros deuses diante de mim”(Êx 20:3).

Jerusalém havia se tornado arrogante e cometeu práticas repugnantes diante do SENHOR, construiu altares idólatras por toda parte a ponto de Deus dizer que Samaria não havia cometido metade dos seus pecados। (Ez 16:49-51). Infidelidade.

Nos dias atuais nós somos a Jerusalém de Deus, a noiva do Cordeiro। E infelizmente, muitos estão em adultério em relação ao Deus vivo. Cristãos estão traindo e colocando bens materiais, pessoas e ministérios acima de Deus. Muitos a qualquer momento podem se deparar com um profeta Ezequiel desta geração e ouvir as seguintes palavras: “Você, homem adúltero”, “Você, mulher adúltera”. E a advertência verbal poderá ser apenas um sinal para o juízo que se aproxima.

Uma outra questão digna de nota é a da falta de fidelidade junto às igrejas। Hoje você pergunta qual igreja o irmão freqüenta e ele tem que pegar papel e caneta para fazer uma lista das que visitou na última semana. Você pergunta quem é o vosso pastor e ele diz: “depende”. E por aí vai. Hoje o irmão é batista, amanhã presbiteriano, na semana que vem é da Igreja da Graça e por aí vai. O erro não está em visitar vez por outra alguma igreja, e sim, em não ser fiel a nenhuma delas. E a infidelidade no relacionamento vertical para com Deus é refletida nos relacionamentos horizontais que possuímos, e nisto também se insere a igreja.

Que Deus possa contar com a nossa fidelidade। Que a aliança que fizemos com Ele não seja quebrada através de nossos atos. Olhemos para a cruz do calvário e vejamos o exemplo do nosso Salvador, pois ele foi fiel até o fim, até a morte, e morte de cruz.

No amor fiel de Deus,
Anderson Vieira

sábado, 7 de março de 2009

Dízimo -- preceito cristão?

A prática do dízimo é um tema controvertido nas igrejas evangélicas, tendo, de um lado, defensores apaixonados e, do outro, críticos ardorosos. Para alguns, é uma espécie de legalismo judaico preservado na igreja cristã. Para outros, trata-se de uma norma divina que tem valor permanente para o povo de Deus, na antiga e na nova dispensação. Os críticos do dízimo afirmam que sua obrigatoriedade é contrária ao espírito do evangelho, pois Cristo liberta as pessoas das imposições da lei. Os defensores alegam que essa posição é interesseira, porque permite às pessoas se eximirem da responsabilidade de sustentar generosamente a igreja e suas atividades. O grande desafio nessa área é encontrar o equilíbrio entre tais posições divergentes. O que está em jogo é uma questão mais ampla -- o conceito da mordomia cristã, do uso que os cristãos fazem de seus recursos e bens.

O dízimo (do latim “decimu”) pode ser definido como a prática de dar a décima parte de todos os frutos e rendimentos para o sustento das instituições religiosas e dos seus ministros। Trata-se de um costume antigo e generalizado, sendo encontrado tanto no judaísmo como nas culturas vizinhas do Oriente Médio. Essa prática é claramente estabelecida no Antigo Testamento, sendo até mesmo anterior à lei de Moisés (Gn 14.20; 28.22). O dízimo era devido primariamente a Deus, como expressão de gratidão por suas bênçãos e consagração a ele. Mais tarde, tornou-se um preceito formal na vida religiosa dos hebreus (Lv 27.30-32), sendo destinado especificamente para o sustento dos levitas (Nm 18.21-24). Em Deuteronômio, está associado a uma refeição comunitária festiva e ao auxílio aos necessitados (12.17-19; 14.22-29; 26.12-14). Às vezes era dado liberalmente (2Cr 31.5-6; Ne 10.37-39; 12.44) e em outras ocasiões retido fraudulentamente (Ml 3.8-10).

Nos escritos do Novo Testamento, o dízimo é mencionado explicitamente apenas nos Evangelhos e na epístola aos Hebreus, sempre em relação aos judeus। Jesus aprovou a prática, mas a censurou quando se tornava uma expressão de frio legalismo (Mt 23.23; Lc 11.42; 18.12; ver Am 4.4). Em Hebreus, é mencionado em conexão com Melquisedeque, uma figura do sacerdócio de Cristo (7.1-10). As epístolas paulinas falam muito sobre ofertas para a comunidade, mas sua ênfase maior é sobre as contribuições voluntárias (2Co 9.6-7). O Novo Testamento não fornece muitas informações sobre o sustento do trabalho regular da igreja. Todavia, as informações disponíveis destacam atitudes como gratidão, fé, amor e generosidade como motivações centrais da mordomia cristã.

No início da igreja, a informalidade e a simplicidade das estruturas não exigiam muitos recursos para sua manutenção। Não havia templos nem ministério em tempo integral (muitos líderes eram “fazedores de tendas”, como Paulo). A maior carência estava na área social ou beneficente. Daí a grande ênfase nas ofertas, principalmente em situações de particular necessidade (ver 1Co 16.1-4; 2Co 8.1–9.15). No entanto, o princípio de que a contribuição devia ser marcada pelo desprendimento e liberalidade se manteve, como se pode ver na “Didaquê”, um manual eclesiástico do 2º século: “Tome uma parte do seu dinheiro, da sua roupa e de todas as suas posses, segundo lhe parecer oportuno, e os dê conforme o preceito” (13.7). No final do mesmo século, Irineu de Lião se referiu aos cristãos como aqueles que “separam todas as suas posses para os propósitos do Senhor, entregando de modo alegre e espontâneo as porções não menos valiosas de sua propriedade” (“Contra as heresias” IV.18).

Com o passar do tempo e a crescente institucionalização da igreja, houve a necessidade de uma forma padronizada de contribuição। Com isso, recorreu-se ao precedente bíblico já conhecido e testado por muito tempo -- o dízimo. Ao longo dos séculos, ele se tornou obrigatório -- uma espécie de imposto eclesiástico -- e na época de Carlos Magno passou a integrar a lei civil. No final da Idade Média surgiram abusos quando os dízimos, em certos casos, se tornaram um instrumento para a compra de cargos eclesiásticos (simonia). Houve controvérsias quando as pessoas buscavam fugir ao pagamento dos dízimos enquanto outras tentavam se apropriar desses rendimentos para si mesmas. Os países que tinham igrejas estatais recolhiam os dízimos dos fiéis em troca do sustento da igreja e do pagamento dos salários dos ministros (côngrua). No Brasil colonial, em virtude do sistema conhecido como “padroado”, o dízimo se tornou o principal tributo arrecadado pelo estado português.

A questão que se coloca é a seguinte -- o dízimo é valido hoje em dia para os cristãos? É uma forma legítima de contribuição cristã? São muitos os fatores a serem considerados na busca de uma resposta। Em primeiro lugar, é preciso atentar para o ensino bíblico global sobre o lugar que os bens devem ter na vida do crente. Deus é o senhor e proprietário supremo de todas as coisas. Os seres humanos são mordomos, ou seja, administradores dos recursos e dádivas de Deus. Aqueles que realmente o amam, são gratos por suas bênçãos e querem servi-lo, se sentirão movidos intimamente a contribuir para causas que engrandecem o seu nome. A segunda consideração é pragmática. A igreja é uma associação voluntária. Ela não tem outra fonte estável de sustento a não ser as contribuições dos seus membros. As ofertas ocasionais comprovadamente são insuficientes para atender a todas as necessidades financeiras da comunidade cristã. Torna-se necessário um método de contribuição que seja regular, generoso e proporcional aos recursos dos fiéis.

Outro argumento se baseia numa comparação entre Israel e a igreja। Os cristãos entendem que têm recebido bênçãos muito maiores que a antiga nação judaica। O que para esta estava na forma de promessas, para os cristãos são realidades concretas, presentes. A vinda do Messias, sua obra de redenção, seus ensinos e os de seus apóstolos (o Novo Testamento), a dádiva do Espírito Santo e a revelação mais plena da vida futura são exemplos desses grandes benefícios usufruídos plenamente na nova aliança. Daí decorre o seguinte raciocínio: se Deus prescreveu o dízimo para o antigo povo de Israel, seria de se esperar que ele requeresse menos dos cristãos, detentores de maiores dádivas? Portanto, muitos estudiosos concluem que o dízimo deve ser, não o teto da contribuição cristã, mas o piso, o mínimo, o ponto de partida.

A questão do dízimo é tão difícil para muitos cristãos porque toca numa parte sensível da sua vida -- o bolso। Parece excessivo entregar um décimo dos rendimentos para Deus, para a causa de Cristo. Nem todos têm o desprendimento e a generosidade da pobre viúva elogiada por Jesus (Mc 12.41-44). Todavia, o dízimo pode ser uma bênção na experiência do cristão em dois sentidos. Primeiro, como um desafio para a sua vida espiritual. Dar o dízimo pressupõe uma relação de amor, gratidão e compromisso com Deus e com as pessoas que serão beneficiadas com essa contribuição. Em segundo lugar, é também um desafio para a melhor administração da vida financeira. Muitas pessoas têm dificuldade em contribuir para a igreja e suas causas porque são desorganizadas em suas finanças, gastam mais do que podem, não têm um senso de prioridades em seu orçamento. A prática do dízimo produz uma disciplina que beneficia outras áreas da vida. Para aqueles que querem trilhar esse caminho, a sugestão é que comecem a aumentar gradativamente a sua contribuição, até atingir o padrão do Antigo Testamento... e então ir além dele.

• Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil. É autor de A Caminhada Cristã na História e “Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil”. asdm@mackenzie.com.br