terça-feira, 8 de julho de 2008

O Rio de Janeiro continua lindo?

Eu, como carioca (e da gema), hoje residindo em Cuiabá/MT, busco entender, sem sucesso, o que aconteceu com o Rio de Janeiro. É até irracional chamar essa cidade de maravilhosa. Alguém que goze de saúde mental jamais irá classificar o seleiro do samba, boêmia e paisagens fenomenais como “maravilhosa”. Não nas atuais circunstâncias. Quando a música “O Rio de Janeiro” foi escrita, com certeza, a inspiração se pautava em poder caminhar no calçadão de Copacabana a vontade; em ir ao Barra Shopping fazer compras sem medo de ser assaltado; em ir aos Arcos da Lapa e contemplar manifestações culturais como hip hop e charme, marcados por muita gente bonita e alegria; em poder ir ao maracanã torcer pelo time de coração sem medo de ser atingido por bala perdida; em poder passar pelo morro da Rocinha, Alemão e Mineira sabendo que ninguém mexia com ninguém; em andar de metrô, trem e ônibus batendo um papo reto; em ver uma cidade com morenas, louras e ruivas bronzeadas no arpoador, que faziam os gringos se apaixonarem; em ir ao Pão de Açúcar na Urca e tirar fotos cinematográficas.

Hoje, Rio de Janeiro pode ser tudo, menos lindo. Pois virou sinônimo de guerra civil, assassinatos, polícia e exército despreparados, milícias, Comando Vermelho, Terceiro Comando e agora, Amigo dos Amigos (Que de amigo não tem nada), bailes funks marcados pela devassidão (Posso falar com propriedade porque freqüentei muito tempo os Bailes da Furacão 2000), adolescentes grávidas como nunca se viu, praias poluídas, assaltos a luz do dia a poucos metros da cabine da PM, arrastões, custo de vida altíssimo – de dar inveja a algumas cidades da Europa, desemprego atenuado e jornais sensacionalistas onde se espremer sai sangue (o carioca abre o jornal, ouve o rádio e liga a TV, e uma coisa é certa: carnificina.

É claro, é óbvio que o Rio de Janeiro ostenta muitas coisas boas.
É claro que há muita gente séria.
É claro que nem tudo está perdido.
É claro que o esquartejamento dos três jovens não é o ponto final.
É claro que a morte do jovem João Roberto de 3 anos por policiais despreparados não é o fim.
É claro que no próximo FLA X FLU no maracanã todos já terão se esquecido dessas barbáries.
É claro que as escolas de samba do grupo especial já estão a todo vapor.
É claro que fim de semana vai dar praia.
É claro que na Mineira e Providência tem baile funk lotado fim de semana, e se bobear, com a Mulher Melancia como atração.
É claro, é óbvio que o Rio de Janeiro não é essa guerra mostrada pelos principais meios de comunicação.

Eu nem moro mais no Rio de Janeiro, que direito tenho eu de falar algo? Vivi lá apenas 21 anos da minha vida! Faz 8 anos que estou fora.

Mas que saudades do Rio de Janeiro onde malandragem era pegar jacaré na praia do Leblon, comer um churrasco na laje do barraco na Rocinha, caminhar no Jardim Botânico, andar de bike na Lagoa Rodrigo de Freitas e curtir a maresia no rosto aos fins de tarde.

Que Deus tenha misericórdia do Rio de Janeiro. Ou melhor, do Brasil.

Oremos. E muito.

Agora, por favor, cantar que o Rio de Janeiro continua lindo é o retrato da insensatez.

Em Cristo,
Anderson Vieira